sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Poética



De manhã escureço

De dia tardo

De tarde anoiteço

De noite ardo.


A oeste a morte

Contra quem vivo

Do sul cativo

O este é meu norte.


Outros que contem

Passo por passo:

Eu morro ontem

Nasço amanhã

Ando onde há espaço:


Meu tempo é quando.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O Poeta descrito por Baudelaire


Bênção

Quando, por uma lei das supremas potências,
O Poeta se apresenta à platéia entediada,
Sua mãe, estarrecida e prenhe de insolências,
Pragueja contra Deus, que dela então se apiada:

– “Ah! tivesse eu gerado um ninho de serpentes,
Em vez de amamentar esse aleijão sem graça!
Maldita a noite dos prazeres mais ardentes
Em que meu ventre concebeu minha desgraça!

Pois que entre todas neste mundo fui eleita
Para ser o desgosto de meu triste esposo,
E ao fogo arremessar não posso, qual se deita
Uma carta de amor, esse monstro asqueroso,

Eu farei recair teu ódio que me afronta
Sobre o instrumento vil de tuas maldições,
E este mau ramo hei de torcer de ponta a ponta,
Para que aí não vingue um só de seus botões!”

E rumina assim todo o ódio que a envenena,
E, por nada entender dos desígnios eternos,
Ela própria prepara ao fundo da Geena
A pira consagrada aos delitos maternos.

Sob a auréola, porém, de um anjo vigilante,
Inebria-se ao sol o infante deserdado,
E em tudo o que ele come ou bebe a cada instante
Há um gosto de ambrosia e néctar encarnado.

Às nuvens ele fala, aos ventos desafia
E a via-sacra entre canções percorre em festa;
O Espírito que o segue em sua romaria
Chora ao vê-lo feliz como ave da floresta.

Os que ele quer amar o observam com receio,
Ou então, por desprezo à sua estranha paz,
Buscam quem saiba acometê-lo em pleno seio,
E empenham-se em sangrar a fera que ele traz.

Ao pão e ao vinho que lhe servem de repasto
Eis que misturam cinza e pútridos bagaços;
Hipócritas, dizem-lhe o tato ser nefasto,
E se arrependem por lhe haver cruzado os passos.

Sua mulher nas praças perambula aos gritos:
“Pois se tão bela sou que ele deseja amar-me,
Farei tal qual os ídolos dos velhos ritos,
E assim, como eles, quero inteira redourar-me;

E aqui, de joelhos, me embebedarei de incenso,
De nardo e mirra, de iguarias e licores,
Para saber se desse amante tão intenso
Posso usurpar sorrindo os cândidos louvores.

E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,
Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;
E minhas unhas, como as garras das Harpias,
Hão de abrir um caminho até seu coração.

Como ave tenra que estremece e que palpita,
Ao seio hei de arrancar-lhe o rubro coração,
E, dando rédea à minha besta favorita,
Por terra o deitarei sem dó nem compaixão!”

Ao Céu, de onde ele vê de um trono a incandescência,
O Poeta ergue sereno as suas mãos piedosas,
E o fulgurante brilho de sua vidência
Ofusca-lhe o perfil das multidões furiosas:

– “Bendito vós, Senhor, que dais o sofrimento,
Esse óleo puro que nos purga as imundícias
Como o melhor, o mais divino sacramento
E que prepara os fortes às santas delícias!

Eu sei que reservais um lugar para o Poeta
Nas radiantes fileiras das santas Legiões,
E que o convidareis à comunhão secreta
Dos Tronos, das Virtudes, das Dominações.

Bem sei que a dor é nossa dádiva suprema,
Aos pés da qual o inferno e a terra estão dispersos,
E que, para talhar-me um místico diadema,
Forçoso é lhes impor os tempos e universos.

Mas nem as jóias que em Palmira reluziam,
As pérolas do mar, o mais raro diamante,
Engastados por vós, ofuscar poderiam
Este belo diadema etéreo e cintilante;

Pois que ela apenas será feita de luz pura,
Arrancada à matriz dos raios primitivos,
De que os olhos mortais, radiantes de ventura,
Nada mais são que espelhos turvos e cativos!”


II

O Albatroz

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O Poeta se compara ao príncipe da altura
Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

(Charles Baudelaire - tradução de Ivan Junqueira)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Pátria Minha



A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Inverno (em pleno verão)





No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar
até sumir

De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço
longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo
que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia
mesmo
O leão que sempre cavalguei
Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre
me quis só
no deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco
embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o
céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se
assombrar.
No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no
seu olhar até sumir

De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase
glacial
Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei
Lá mesmo esqueci que o
destino
Sempre me quis só
no deserto sem saudade, sem remorso só
Sem
amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me
lembrar
Que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar.
Não sei o que em mim
Só quer me
lembrar
Que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar.
Não sei o que em mim
Só quer me
lembrar
Que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar.
No dia em que fui mais
feliz...


(Adriana Calcanhoto)

Deuses



Alguma dúvida? Somos templo de Deus, Ele habita em nós, e anda entre nós. O Santo, o Sublime, o Altíssimo, o Deus de Amor, consente em viver dentro da gente... O Santo, Santo, Santo... assim, cuidemos desse templo, vivamos de forma digna a abrigar a própria Divindade em nós.

Temos internamente o "Gênio da Lâmpada" em nós, para que profetas e adivinhos? O Onisciente está em nós. Para que recorrer a auxílio de outrem, se o Onipotente está conosco? Para onde fugir de sua face, se ele está em nós?

As realizações mentais, emocionais, místicas e comportamentais dessa verdade, dessa crença de fé cristã, são de longo alcance e devem ser destiladas, meditadas, vividas e realizadas. O verdadeiro Samadhi e iluminação cristã é realizar essa Divindade viva em nós e andar no Espírito da verdade em nós.

Nada mais a dizer... este é o misticismo cristão. Deus está em nós. Cristo vive em nós. A Bíblia está sobejando desta revelação, desta boa nova. Cristo em vós, esperança da glória. "Cristo vive em mim", diz Paulo. Essa é a novidade do Novo Testamento, Deus em nós, seu Espírito da verdade em nossos corações. Temos o Rei na barriga, o Filho de Deus em nós. Por isso "somos deuses", somos "reis e sacerdotes", à imagem e semelhança do Deus dos deuses, do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores... Por isso Cristo disse: "E fareis obras maiores do que estas, porque vou para o meu Pai". E ele disse: "Eu sou a videira verdadeira, vós os ramos. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo nada pode fazer sem estar ligado à videira, assim também vós... Sem mim nada podeis fazer..."

Realizemos esta verdade, pois a centelha divina, o Espirito indestrutível, está em nós, e é nosso sal que nos conserva, nossa salvação, o penhor, a garantia de nossa imortalidade.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A luz de Tieta


Todo dia é o mesmo dia A vida é tão tacanha Nada novo sobre o sol Tem que se esconder no escuro Que na luz se banha Por debaixo do lençol Nessa terra a dor é grande A ambição pequena Carnaval e futebol Quem não finge, quem não mente Quem mais goza é pena É quem serve de farol Existe alguém em nós Em muito dentro de nós esse alguém Que grita mais do que milhões de sós Que na escuridão conhece também Existe alguém aqui Fundo no fundo de você de mim Que grita para quem quiser me ouvir Quanto canta assim Toda noite é a mesma noite A vida é tão estreita Nada de louvor ao luar Todo mundo quer saber Com quem você se deita Nada pode prosperar É Domingo, é Fevereiro É sete de Setembro Futebol e carnaval Nada muda tudo escuta Até onde eu me lembro Meu batuque é sempre igual Existe alguém em nós Em muito dentro de nós esse alguém Que grita mais do que milhões de sós Que na escuridão conhece também Existe alguém aqui Fundo no fundo de você de mim Que grita para quem quiser me ouvir Quanto canta assim Êta, êta, êta, êta É a lua, é o sol É a luz de Tieta, êta, êta

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Hora Íntima


Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal…
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto…
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo…
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada…
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

Receita de infarto


Cuide de seu trabalho antes de tudo. As necessidades pessoais e familiares são secundárias.
Trabalhe aos sábados o dia inteiro e, se puder também aos domingos.
Se não puder permanecer no escritório à noite, leve trabalho para casa e trabalhe até tarde.
Ao invés de dizer não, diga sempre sim a tudo que lhe solicitarem.
Procure fazer parte de todas as comissões, comitês, diretorias, conselhos e aceite todos os convites para conferências, seminários, encontros, reuniões, simpósios etc.
Não se dê ao luxo de um café da manhã ou uma refeição tranqüila. Pelo contrário, não perca tempo e aproveite o horário das refeições para fechar negócios ou fazer reuniões importantes.
Não perca tempo fazendo ginástica, nadando, pescando, jogando bola ou tênis. Afinal, tempo é dinheiro.
Nunca tire férias, você não precisa disso. Lembre-se que você é de ferro.
Centralize todo o trabalho em você, controle e examine tudo para ver se nada está errado. Delegar é pura bobagem; é tudo com você mesmo.
Se sentir que está perdendo o ritmo, o fôlego e pintar aquela dor de estômago, tome logo estimulantes, energéticos e anti-ácidos. Eles vão te deixar tinindo.
Se tiver dificuldades em dormir não perca tempo: tome calmantes e sedativos de todos os tipos. Agem rápido e são baratos.
E por último, o mais importante: não se permita ter momentos de oração, meditação, audição de uma boa música e reflexão sobre sua vida. Isto é para crédulos e tolos sensíveis.
Repita para si: Eu não perco tempo com bobagens.
(Anônimo)

Mãos dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade)

Soneto a Quatro Mãos


Tudo de amor que existe em mim foi dado.

Tudo que fala em mim de amor foi dito.

Do nada em mim o amor fez o infinito

Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado

Tão fácil para amar fiquei proscrito.

Cada voto que fiz ergueu-se em grito

Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse

Nesse meu pobre coração humano

Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano

Melhor fora que desse e recebesse

Para viver da vida o amor sem dano.


Vinicius de Moraes


A volta da mulher morena


A volta da mulher morena
Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo E estão me despertando de noite. Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena Eles são maduros e úmidos e inquietos E sabem tirar a volúpia de todos os frios. Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma Cortai os peitos da mulher morena Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono E trazem cores tristes para os meus olhos. Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes Traze-me para o contato casto de tuas vestes Salva-me dos braços da mulher morena Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim São como raízes recendendo resina fresca São como dois silêncios que me paralisam. Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena Livra-me do seu ventre como a campina matinal Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria. Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena Reza para murcharem as pernas da mulher morena Reza para a velhice roer dentro da mulher morena Que a mulher morena está encurvando os meus ombros E está trazendo tosse má para o meu peito. Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus [últimos cantos Dai morte cruel à mulher morena!
Vinicius de Moraes

Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

Lá sou amigo do rei

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

(Manuel Bandeira)

O mundo desaba e Deus em mim descansa


Os EUA arrogantes estão em crise. Tudo o que é sólido se desmancha no ar. O desastre vem da água e do fundo dos oceanos, das placas tectônicas. O clima enlouqueceu. O superacelerador de partículas pode jogar tudo pelos ares...


E no meio de tanta confusão, uma descoberta... Talvez a maior descoberta, ou a crença mais poderosa e transformadora de todos os tempos: Deus está dentro de mim. Mas não apenas dentro de mim. Deus está em todos. Todos são filhos de Deus. Precisam apenas realizar isso, viver isso, praticar isso... Essa é a boa nova do Evangelho... Somos todos filhos amados de Deus, e Ele habita em nós... essa é nossa imagem e semelhança de Deus...

Assim, mesmo que o mundo desabe e o clima superaqueça, ainda que tudo enlouqueça e vá às favas, que o dinheiro acabe, que a mulher me abandone, e agora José? Aqui dentro é como o fundo do Oceano, há luz e vida, descanso em eterna paz, há Deus, adeus.

Eu me amo


Há tanto tempo eu vinha me procurandoQuanto tempo faz, nem me lembro maisSempre correndo atrás de mim feito loucoTentando sair desse meu sufocoEu era tudo que eu podia quererEra tão simples e eu custei pra aprenderDaqui pra frente nova vida eu tereiSempre ao meu lado bem feliz eu sereiEu me amo, eu me amoNão posso mais viver sem mimComo foi bom eu ter aparecidoNessa minha vida já um tanto sofridaJá não sabia mais o que fazerPra eu gostar de mim e me aceitar assimEu que queria tanto ter alguémAgora eu sei, sem mim eu não sou ninguémLonge de mim nada mais faz sentidoPra toda vida eu quero estar comigoEu me amo, eu me amoNão posso mais viver sem mimEu, me, my self and iIo, je, moi meme, ish zelber, io estessaFoi tão difícil pra eu me encontrarÉ muito fácil um grande amor acabar, masEu vou lutar por esse amor até o fimNão vou mais deixar eu fugir de mimAgora eu tenho uma razão pra viverAgora eu posso até gostar de vocêCompletamente eu vou poder me entregarÉ bem melhor você sabendo se amarEu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim
(Ultraje a Rigor)

Transtorno Bipolar...



Eu vivi esta realidade em minha vida... não, eu não sou bipolar, mas amei uma bipolar, e isso foi tão intenso que quase me fundi em sua doença... o que me fez curioso sobre este mal que tanto me transtornou!


O que é?


O transtorno afetivo bipolar era denominado até bem pouco tempo de psicose maníaco-depressiva. Esse nome foi abandonado principalmente porque este transtorno não apresenta necessariamente sintomas psicóticos, na verdade, na maioria das vezes esses sintomas não aparecem. Os transtornos afetivos não estão com sua classificação terminada. Provavelmente nos próximos anos surgirão novos subtipos de transtornos afetivos, melhorando a precisão dos diagnósticos. Por enquanto basta-nos compreender o que vem a ser o transtorno bipolar. Com a mudança de nome esse transtorno deixou de ser considerado uma perturbação psicótica para ser considerado uma perturbação afetiva.A alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica dessa patologia. Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha uma fase depressiva, receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente um episódio maníaco tem na verdade o transtorno bipolar, mas até que a mania surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro. O termo mania é popularmente entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa. Mania em psiquiatria significa um estado exaltado de humor que será descrito mais detalhadamente adiante.A depressão do transtorno bipolar é igual a depressão recorrente que só se apresenta como depressão, mas uma pessoa deprimida do transtorno bipolar não recebe o mesmo tratamento do paciente bipolar.

CaracterísticasO início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 20 a 30 anos de idade, mas pode começar mesmo após os 70 anos. O início pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, iniciando gradualmente ao longo de semanas, meses ou abruptamente em poucos dias, já com sintomas psicóticos o que muitas vezes confunde com síndromes psicóticas. Além dos quadros depressivos e maníacos, há também os quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes confunde os médicos retardando o diagnóstico da fase em atividade.

TiposAceita-se a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. O tipo I é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania alternados com os depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por maníacas. Na prática observa-se muito mais uma tendência dos pacientes a fazerem várias crises de um tipo e poucas do outro, há pacientes bipolares que nunca fizeram fases depressivas e há deprimidos que só tiveram uma fase maníaca enquanto as depressivas foram numerosas. O tipo II caracteriza-se por não apresentar episódios de mania, mas de hipomania com depressão.Outros tipos foram propostos por Akiskal, mas não ganharam ampla aceitação pela comunidade psiquiátrica. Akiskal enumerou seis tipos de distúrbios bipolares.

Fase maníacaTipicamente leva uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar meses. O estado de humor está elevado podendo isso significar uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva. Junto a essa elevação encontram-se alguns outros sintomas como elevação da auto-estima, sentimentos de grandiosidade podendo chegar a manifestação delirante de grandeza considerando-se uma pessoa especial, dotada de poderes e capacidades únicas como telepáticas por exemplo. Aumento da atividade motora apresentando grande vigor físico e apesar disso com uma diminuição da necessidade de sono. O paciente apresenta uma forte pressão para falar ininterruptamente, as idéias correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou e ficar sempre emendando uma idéia não concluída em outra sucessivamente: a isto denominamos fuga-de-idéias.. O paciente apresenta uma elevação da percepção de estímulos externos levando-o a distrair-se constantemente com pequenos ou insignificantes acontecimentos alheios à conversa em andamento. Aumento do interesse e da atividade sexual. Perda da consciência a respeito de sua própria condição patológica, tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente ou insuportável. Envolvimento em atividades potencialmente perigosas sem manifestar preocupação com isso. Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia o que não significa uma mudança de diagnóstico, mas mostra um quadro mais grave quando isso acontece.

Fase depressivaÉ de certa forma o oposto da fase maníaca, o humor está depressivo, a auto-estima em baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física esta comprometida, pois a sensação de cansaço é constante. As idéias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção é difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas em geral é perdido bem como o prazer na realização daquilo que antes era agradável. Nessa fase o sono também está diminuído, mas ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou descanse, uma vez que o paciente acorda indisposto. Quando não tratada a fase maníaca pode durar meses também.

Exemplo de como um paciente se sente...Ele se sente bem, realmente bem..., na verdade quase invencível. Ele se sente como não tendo limites para suas capacidades e energia. Poderia até passar dias sem dormir. Ele está cheio de idéias, planos, conquistas e se sentiria muito frustrado se a incapacidade dos outros não o deixasse ir além. Ele mal consegue acabar de expressar uma idéia e já está falando de outra numa lista interminável de novos assuntos. Em alguns momentos ele se aborrece para valer, não se intimida com qualquer forma de cerceamento ou ameaça, não reconhece qualquer forma de autoridade ou posição superior a sua. Com a mesma rapidez com que se zanga, esquece o ocorrido negativo como se nunca tivesse acontecido nada. As coisas que antes não o interessava mais lhe causam agora prazer; mesmo as pessoas com quem não tinha bom relacionamento são para ele amistosas e bondosas.

Sintomas (maníacos):Sentimento de estar no topo do mundo com um alegria e bem estar inabaláveis, nem mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis diretamente ligados ao paciente podem abalar o estado de humor. Nessa fase o paciente literalmente ri da própria desgraça.Sentimento de grandeza, o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder político. Inicialmente quando os sintomas ainda não se aprofundaram o paciente sente-se como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do quadro esta idéia torna-se uma convicção delirante. Sente-se invencível, acham que nada poderá detê-las.Hiperatividade, os pacientes nessa fase não conseguem ficar parados, sentados por mais do que alguns minutos ou relaxar.O senso de perigo fica comprometido, e envolve-se em atividade que apresentam tanto risco para integridade física como patrimonial.O comportamento sexual fica excessivamente desinibido e mesmo promíscuo tendo numerosos parceiros num curto espaço de tempo.Os pensamentos correm de forma incontrolável para o próprio paciente, para quem olha de fora a grande confusão de idéias na verdade constitui-se na interrupção de temas antes de terem sido completados para iniciar outro que por sua vez também não é terminado e assim sucessivamente numa fuga de idéias.A maneira de falar geralmente se dá em tom de voz elevado, cantar é um gesto freqüente nesses pacientes.A necessidade de sono nessa fase é menor, com poucas horas o paciente se restabelece e fica durante todo o dia e quase toda a noite em hiperatividade.Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer, geralmente provocadas por algum motivo externo, mas da mesma forma como aparece se desfaz. A fase depressivaNa fase depressiva ocorre o posto da fase maníaca, o paciente fica com sentimentos irrealistas de tristeza, desespero e auto-estima baixa. Não se interessa pelo que costumava gostar ou ter prazer, cansa-se à-toa, tem pouca energia para suas atividades habituais, também tem dificuldade para dormir, sente falta do sono e tende a permanecer na cama por várias horas. O começo do dia (a manhã) costuma ser a pior parte do dia para os deprimidos porque eles sabem que terão um longo dia pela frente. Apresenta dificuldade em concentra-se no que faz e os pensamentos ficam inibidos, lentificados, faltam idéias ou demoram a ser compreendidas e assimiladas. Da mesma forma a memória também fica prejudicada. Os pensamentos costumam ser negativos, sempre em torno de morte ou doença. O apetite fica inibido e pode ter perda significativa de peso.

GeneralidadesEntre uma fase e outra a pessoa pode ser normal, tendo uma vida como outra pessoa qualquer; outras pessoas podem apresentar leves sintomas entre as fases, não alcançando uma recuperação plena. Há também os pacientes, uma minoria, que não se recuperam, tornando-se incapazes de levar uma vida normal e independente.A denominação Transtorno Afetivo Bipolar é adequada? Até certo ponto sim, mas o nome supõe que os pacientes tenham duas fases, mas nem sempre isso é observado. Há pacientes que só apresentam fases de mania, de exaltação do humor, e mesmo assim são diagnosticados como bipolares. O termo mania popularmente falando não se aplica a esse transtorno. Mania tecnicamente falando em psiquiatria significa apenas exaltação do humor, estado patológico de alegria e exaltação injustificada. O transtorno de personalidade, especialmente o borderline pode em alguns momentos se confundir com o transtorno afetivo bipolar. Essa diferenciação é essencial porque a conduta com esses transtornos é bastante diferente.

Qual a causa da doença?A causa propriamente dita é desconhecida, mas há fatores que influenciam ou que precipitem seu surgimento como parentes que apresentem esse problema, traumas, incidentes ou acontecimentos fortes como mudanças, troca de emprego, fim de casamento, morte de pessoa querida.Em aproximadamente 80 a 90% dos casos os pacientes apresentam algum parente na família com transtorno bipolar.

Como se trata?O lítio é a medicação de primeira escolha, mas não é necessariamente a melhor para todos os casos. Freqüentemente é necessário acrescentar os anticonvulsivantes como o tegretol, o trileptal, o depakene, o depakote, o topamax.Nas fases mais intensas de mania pode se usar de forma temporária os antipsicóticos. Quando há sintomas psicóticos é quase obrigatório o uso de antipsicóticos. Nas depressões resistentes pode-se usar com muita cautela antidepressivos. Há pesquisadores que condenam o uso de antidepressivo para qualquer circunstância nos pacientes bipolares em fase depressiva, por causa do risco da chamada "virada maníaca", que consiste na passagem da depressão diretamente para a exaltação num curto espaço de tempo.O tratamento com lítio ou algum anticonvulsivante deve ser definitivo, ou seja, está recomendado o uso permanente dessas medicações mesmo quando o paciente está completamente saudável, mesmo depois de anos sem ter problemas. Esta indicação se baseia no fato de que tanto o lítio como os anticonvulsivantes podem prevenir uma fase maníaca poupando assim o paciente de maiores problemas. Infelizmente o uso contínuo não garante ao paciente que ele não terá recaídas, apenas diminui as chances disso acontecer. Pacientes hipertensos sem boa resposta ao tratamento de primeira linha podem ainda contar com o verapamil, uma medicação muito usada na cardiologia para controle da hipertensão arterial que apresenta efeito anti-maníaco. A grande desvantagem do verapamil é ser incompatível com o uso simultâneo do lítio, além da hipotensão que induz nos pacientes normotensosÚltima Atualização: 15-10-2004


Carta de uma (quase) suicida que certa vez amei



Carta de uma (Quase) suicida...


1. Levanto meus olhos ao Senhor meu Deus e pergunto: Quando encontrarei o homem que me amará e que me deixará amá-lo? Por que colocastes em mim esta chama que arde sem parar, se me condenais à solidão? Não sou querida a Vós, como as demais criaturas que criastes, e assim me obrigais a vagar sem destino pela Terra, na eterna procura do amor e da felicidade que não existem para mim? Quantas lágrimas me quereis ver derramar na dor, no sofrimento e no desespero da vida solitária e vazia que levo, na qual tudo o que sinto não serve para ninguém? Vós vos divertis, ó Senhor, ao irromper da aurora, quando a cada novo dia constato meu passado miserável e meu futuro sem esperança? Quereis me destruir aos poucos, humilhar-me, saborear minha degradação mental, física e emotiva. Amaldiçoada seja a minha criação! Pois então fulminai-me de uma vez, acabai rápido com a tortura a que me submete ao manter-me viva! Ou fá-lo-ei por mim mesma...

2.(Respostas, reflexões e fechamentos)

Vindo de mim, com toda minha história, também preciso dizer hoje e agora que não curtindo a completa entrega a essa paixão, sei que nunca vou ter nada não, pois não há mal pior do que a decrença e o medo de rasgar o coração: jamais terei perdão. Sinto que a paixão me consome, me arrebata, me destrói os paradigmas, mói meus miolos e dói demais meu peito: assim me afogo e morro triste no lodo borbulhante dessa sofreguidão.Durmo o sono eterno, enfim, no cerro perdido: semeei vento, colhi tempestade. Fui o princípio, agora chego ao fim: rompante geral, completo e absoluto de perda de alma. De taça de sangue erguida, digo adeus ("a-deus"): ao amor, à fé, à própria criação. Anjo sem asas, mulher sem alma: a brusca queda ao buraco negro.

Suicídio: esse paradoxo do outro


Como alguém pode sequer conceber em dar cabo da própria vida? Eu, amante da vida, do vinho e dos prazeres da vida e do mundo, choco-me diante da possibilidade da morte, que dirá da tentativa de antecipá-la. Mas vivi muito próximo de uma suicida, amei-a e tentei compreender este desejo paradoxal e tão excêntrico para mim.


Suicídio (do latim sui caedere), termo criado por Desfontaines, matar-se, é um ato que consiste em pôr fim intencionalmente à própria vida.
Define-se suicídio como a atitude individual de extinguir a própria vida, podendo ser causada entre outros factores por um elevado grau de sofrimento, que tanto pode ser verdadeiro ou ter sua origem em algum transtorno afetivo, transtorno psiquiátrico como a psicose aguda (quando o indivíduo sai da realidade, porém não o percebe) ou a depressão delirante. Em todos os três casos, a probabilidade de atitude tão extrema é consideravelmente potencializada se houver uso continuado de drogas e de bebidas alcoólicas. O suicida pode, ou não, deixar uma nota de suicídio.
Um amplo espectro da sociedade trata o assunto sob o véu do tabu, ou seja: um tema sobre o qual devem-se evitar maiores aprofundamentos teóricos ou acaloradas discussões. No entanto, o suicídio pode ser considerado um problema de saúde pública, na medida que em países onde a estatística é utilizada como ferramenta no auxílio de melhor visualização da realidade social, como nos Estados Unidos, são elevados os índices de mortes por suicídio e muito maiores os números referentes às tentativas infrutíferas.
As reações ao suicídio variam de cultura para cultura. O ato é considerado um pecado em muitas religiões, e um crime em algumas legislações. Agostinho de Hipona (354-430) assumiu um posicionamento segundo o qual cristãos não podem cometer suicídio, pois compreendia que o mandamento ‘Não matarás’ (Êxodo 20.13) proíbe matar a nós mesmos. Por outro lado, algumas culturas vêem tal ato como uma maneira honrosa de escapar a situações vergonhosas ou desesperadoras, como no caso do seppuku japonês geralmente usado para limpar o nome da familia na sociedade. As pessoas que tentam o suicídio, com sucesso ou sem ele, deixam geralmente um bilhete para explicar tal ato, o que comprova que o suicídio é, de uma maneira geral, um ato premeditado. Suas causas psíquicas ainda permanecem desconhecidas, mas está associado principalmente a quadros depressivos.
Há uma frase célebre sobre o tema do filósofo Albert Camus: "O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia"
No mundo, 815 000 pessoas cometeram suicídio no ano 2000, o que perfaz 14,5 mortes por 100 000 habitantes (uma morte a cada 40 segundos) - fonte, (PDF), em francês.
Países do Leste Europeu são os recordistas em média de suicídio por 100.000 habitantes. A Lituânia (41,9), Estônia (40,1), Rússia (37,6), Letônia (33,9) e Hungria (32,9). Guatemala, Filipinas e Albânia estão no lado oposto, com a menor taxa, variando entre 0,5 e 2. Os demais estão na faixa de 10 a 16.
Em números absolutos, porém, a China lidera as estatísticas. Foram 195 mil suicídios no ano de 2000, seguido pela Índia com 87 mil, a Rússia com 52,5 mil, os Estados Unidos com 31 mil, o Japão com 20 mil e a Alemanha com 12,5 mil. O suicídio é cometido mais freqüentemente pelos homens do que pelas mulheres. Na realidade, o número de tentativas com sucesso é maior nos homens do que nas mulheres, sem dúvida porque os homens escolhem, geralmente, métodos mais violentos (enforcamento ou revólver contra intoxicação por medicamentos para as mulheres).
Com relação à idade, se os jovens são particularmente vítimas deste problema, o número de suicídios é ainda mais importante com uma idade mais elevada, tendo a curva de suicídios masculinos a forma de um n, com um pico próximo aos 50-60 anos.
O suicídio afeta todo mundo, sem distinção de "classe". Acredita-se que o meio cultural influencie as taxas de suicídio. Altos níveis de coesão social e nacional reduzem as taxas de suicídio. Essas são mais elevadas junto às pessoas aposentadas, desempregadas, divorciadas, sem filhos, urbanas, vivendo sozinhas. As taxas aumentam nos períodos de incerteza econômica (apesar de a pobreza não ser uma causa direta). A maior parte dos suicidas sofrem de desordens psicológicas. A depressão é uma das causas mais freqüentes. As doenças psíquicas graves ou doenças crônicas podem também ser causa de suicídios.
Do ponto de vista do indivíduo, o suicídio é raramente percebido como um fim. Ele é, ao contrário, considerado como a única alternativa possível para escapar de uma situação considerada insuportável. Outros motivos existem: encontrar uma pessoa querida falecida, sofrimento por remorsos, etc.
Finalmente, a taxa de suicídios é também influenciada pela cobertura da mídia em torno do suicídio de pessoas célebres. Mesmo o suicídio fictício de um personagem de um drama popular pode conduzir a uma alta temporária da taxa de suicídios (como aconteceu com a publicação de Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe).
Rússia
Todos os anos 60 mil pessoas põem um fim às suas vidas na Rússia, onde a taxa de suicídio é a segunda no mundo --são 34,9 por 100 mil habitantes, abaixo somente da Lituânia e leste europeu anunciou a diretora do Centro Serbski de Psiquiatria Social e Judiciária da Rússia, Tatiana Dmitrieva, em entrevista coletiva organizada por ocasião do Dia Internacional da Saúde Mental.
Japão
O Japão tem a mais alta taxa de suicídio do mundo industrializado (24,1 por 100.000 habitantes). Os suicídios atingiram o número recorde de 34.427 em 2003 (+ 7,1% com relação a 2002) Geralmente empresários e funcionários, comentem suicídios motivados por escândalos de corrupção ou perda de dignidade na sociedade. (fonte : AFP 22/11/2004).
[editar] França
Em 1996, a França teve 12 000 suicídios por 160 000 tentativas; com 62 milhões de habitantes, esses números representam aproximadamente 19 suicídios por 100 000 habitantes, ou seja, um suicídio por 5 000 pessoas, e uma tentativa por 400 pessoas. A França ocupa o quarto lugar entre os países desenvolvidos. Esses números são mais ou menos estáveis desde 1980. O suicídio é uma causa mortis mais importante que os acidentes de trânsito.
[editar] Brasil
No Brasil, 4,9 pessoas a cada 100 mil morrem por suicídio. É uma das menores médias do mundo. Os maiores índices são do Rio Grande do Sul (11 para cada 100 mil), sendo Porto Alegre a capital com maior taxa de suicídios (11,9 para cada 100 mil). A cidade brasileira com o maior índice é o Município de Venâncio Aires, com mais de 40 casos a cada 100 mil habitantes. Uma das causas apontadas é o agrotóxico Tamaron, utilizado em larga escala no cultivo do fumo. Regionalmente, índice de suicídio no Brasil é semelhante ao de países com maiores taxas do mundo.
Quando comparamos a média brasileira à de outros países, pode parecer que não há problema”, diz o coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e de Prevenção do Suicídio da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Tavares, Por localidades, no entanto, existem muitas diferenças, e há lugares em que as taxas são comparadas à gravidade de outros países”.
Caso, por exemplo, do Rio Grande do Sul. O levantamento mostra que, em 2004, o estado apresentava a maior mortalidade masculina por suicídio do país: 16,6 mortes a cada 100 mil homens. Em último lugar vinha o Maranhão, com 2,3 mortes a cada 100 mil homens.
[editar] Portugal
Em Portugal em 2003 11,1 pessoas por cada 100 mil morreram por suicídio sendo que a distribuição por género é de 17,1 por 100 mil para os homens e 5 por 100 mil para as mulheres[1]. A taxa de suicídio em Portugal aumentou 100% em dois anos - 2002 e 2003 -, gerando preocupação na comunidade médica que aguarda os números relativos aos anos de 2004 e 2005 para confirmar se a tendência se mantém. Os últimos dados revelam que se registam 1100 suicídios por ano, no país.
Portugal passou de cerca de 500 suicídios por ano, no final da década de 90, para 1200, em 2002, e 1100, no ano seguinte. Um aumento de taxa que ultrapassa os 100% e que está a deixar a comunidade médica apreensiva e na expectativa de se voltar aos anos negros das décadas de 30 e de 80, altura em que o número de suicídios foi sempre em crescendo.
Suicidas famosos
Alberto Santos Dumont
Alejandra Pizarnik
Adolf Hitler
Alfonsina Storni
Assis Valente
Camilo Castelo Branco
Carlota Joaquina (controverso)
Cleópatra VII
Elliott Smith (controverso)
Ernest Hemingway
Eva Braun
Febe, Julia la Mayor
René Favaloro
Getúlio Vargas
Gilles Deleuze
Horacio Quiroga
Hideto Matsumoto
Ian Curtis
Ingo Schwichtenberg
Jeanne Hébuterne
José María Arguedas
Judas Iscariotes
Kurt Cobain (controverso)
Leopoldo Lugones
Marco António
Mariano José de Larra
Marilyn Monroe
Michael Hutchence
Miroslava Stern
Mónica Santa María Smith
Nero
Nick Drake
Paul Celan
Per Yngve Ohlin
Primo Levi
Rudolf Diesel (não provado)
Salvador Allende (controverso)
Séneca
Stefan Zweig
Sylvia Plath
Thích Quảng Đức
Torquato Neto
Vincent Van Gogh
Violeta Parra
Virginia Woolf
Vladimir Mayakovsky
Yasunari Kawabata
Yukio Mishima
(Fonte: Wikipedia)

Separação


SEPARAÇÃO
Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...
Vinicius

Eu sou um Rei... para isso eu nasci, para dar esse testemunho ao mundo...



Eu sou rei. Um rei deprimido, confuso, absorto em seus pensamentos, um rei que não sabe ainda reinar, mas um rei. A despeito de não saber reinar, não possuir reinos ou tronos, fui eleito rei e assumo minha real condição, minha majestade e realeza, minha condição aristocrática.

Deus é amor



Deus ama. Isso é sublime, pois é o verbo de Deus. Deus é aamor, pois Deus ama. Eu tb amarei, tal como Deus, e assim far-me-ei igual a Deus. Deus ama.. Deus me ama. Eu sou amado. Deus nos ama. Deus ama. Deus é amor. Eu tb amarei.
Amar é prerrogativa de Deus, e nisto somos imagem dele, quando amamos. Amados, vamos amar uns aos outros, porque o amor é de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
Deus é amor. Verdade verdadeira. Do amor de Deus ninguém pode me separar. Quem irá me separar do amor de Cristo?