quarta-feira, 24 de março de 2010

O que as empresas exigem do profissional do novo milênio?



Compartilho com vocês minhas respostas a uma entrevista com uma estudante de um curso de administração. Embora tenha respondido como profissional da área de recursos humanos, penso que ela pode ser útil àqueles de vocês que querem atuar em empresas.

Eu, que sempre atuei como profissional de recursos humanos em diversas empresas privadas e públicas, seja como consultor, gerente ou empregado, penso que tenho uma visão sólida do perfil que as empresas exigem de um profissional do novo milênio.

- Qual a função de um profissional de RH?
Assessorar os gestores e as suas respectivas áreas de negócio e apoio na gestão de pessoas, de forma alinhada às estratégias de negócio, com vistas a tornar mais rentável o capital humano da empresa, de forma sustentável a todas as partes interessadas: acionistas, fornecedores, sociedade, clientes, empregados.

- Num mercado de trabalho tão concorrido como o de hoje, o que um profissional de RH precisa ter/ser como diferencial dos demais?
Conhecer profundamente o negócio de forma a exercer impacto sobre as estratégias do negócio, e ter um conhecimento técnico sólido das diversas disciplinas de administração em geral, e de recursos humanos em particular. Ter experiência em outras culturas e línguas também é um diferencial para lidar com a diversidade.



- Quais os pontos positivos e os negativos de se trabalhar em RH?

Os pontos positivos são o de poder agregar valor ao negócio e lidar com gente, o que apaixonante para mim. Conciliar o aspecto objetivo, métrico e econômico-financeiro da gestão com a diversidade, multiplicidade e subjetividade humana é um desafio apaixonante.

O aspecto negativo é esbarrar com a visão burocrática e operacional, muitas vezes pouco alinhada à pós-modernidade e às necessidades do negócio e das pessoas, que ainda impera na cultura da administração dos "recursos humanos", vide o nome inapropriado, RH, que vê as pessoas como coisas, recursos, meios para a consecução de um fim.

- A aparência física é um fator relevante para a conquista de um emprego?
A aparência no sentido de apresentação pessoal, como marketing pessoal, é fundamental. Em algumas áreas que lidam diretamente com clientes, como vendas, é ainda mais importante, já que os requisitos do cliente é que vão definir a melhor apresentação pessoal.




- De acordo com algumas pesquisas, existe um maior número de vagas em relação aos de profissionais. Por que então se fala tanto em desemprego?
Porque, com a automatização e informatização, por um lado, e pelo aumento da competição num mercado globalizado, por outros, as oportunidades de trabalho que surgem exigem mais qualificação técnica e competências humanas como criatividade, diversidade cultural, flexibilidade e outros.

Infelizmente, as escolas e faculdades não necessariamente estão formando essa espécie de profissionais aderentes às necessidades atuais e futuras das empresas. Outro ponto a ser mencionado é que o paradigma de emprego estável numa grande empresa precisa ser questionado.

Hoje, muitas oportunidades de trabalho surgem em pequenas e médias empresas, talvez em formas mais flexíveis de contrato de trabalho, em empresas de prestação de serviços, ou de segmentos de alta tecnologia, telecomunicações e internet. Os estudantes precisam estar antenados com as tendências mutáveis do mercado para o futuro.



E, ademais, porque diabos só mirar em ser empregado de empresas? A opção de ser um empreendedor e abrir a própria empresa é cada vez uma proposta mais atraente numa era em que os empregos tendem a acabar e a dar lugar a contratos flexíveis de trabalho. Muitas universidades têm incubadoras de empresas que podem ajudar o estudante a se capacitar como empreendedor e empresário.

- Tendo em vista que quase todas as empresas exigem profissionais com experiência, como se ter oportunidade do primeiro emprego/estágio?
Agrega valor estudar numa boa faculdade, ter vivência no exterior, ter no currículo trabalho voluntário, experiência de liderança estudantil, prática de esportes, hábito de leitura e gosto por atividade culturais.



Competências estas que não se aprendem na escola, mas criam um diferencial de uma formação humanista e cultural mais ampla, mais apta para enfrentar desafios da multiculturalidade e da competitividade do mercado empresarial.

- Quais as principais dificuldades que encontrou na relação empresa/funcionário? Como as resolveu?
A burocracia, os jogos de poder, a lentidão na adaptação às mudanças, o tratamento pausterizado dado aos empregados, vistos no discurso como importantes, mas tratados na prática como "recursos humanos" que podem ser facilmente descartados ou substituídos.

Por um lado, a adaptação e flexibilidade para manter o idealismo e humanismo que valoriza o ser humano, sem perder o pragmatismo que se foca em resultados e na solução de problemas imediatos. A solução: ser um sonhador pragmático, mirar na utopia, sem deixar de concretizar aquilo que é possível agora, querer o ótimo mas aceitar provisoriamente o bom.

- Na sua empresa, o que é observado num processo seletivo?
Por ser um concurso público, é avaliada a formação acadêmica, a cultura geral do empregado, o conhecimento de informática e língua inglesa, e as características e aptidões psicológicas medidas em testes psicotécnicos.

- Como definiria/apresentaria a sua empresa, considerando a sua cultura organizacional? O que ela mais valoriza? E o que menos valoriza?
Uma empresa de cultura sólida, ligeiramente tradicional e conservadora, orientada para o mercado e para a sustentabilidade sócio-econômica e ambiental, em que convive uma cultura orientada para o mercado e ao mesmo tempo estatal.

Valoriza, além da formação acadêmica, profissionais com sólida bagagem cultural, que sabem trabalhar bem em equipe, que são capazes de suportar estresse e pressão de trabalho num ambiente altamente competitivo, que tem ótimas habilidades de comunicação e liderança, além de flexibilidade e adaptação às mudanças.

O que ela menos valoriza são profissionais muito individualistas e competitivos que não sabem trabalhar bem em equipe nem fazer networking, querendo ser estrelas brilhando sozinhas. Esses profissionais acabam perdendo muitas oportunidades e sendo "isolados".


- Que tipo de profissional a sua empresa busca? E o mercado?

Aqueles que a empresa valoriza, que acabei de mencionar. Apesar do concurso público não conseguir medir as competências comportamentais, os profissionais que se sobressaem e têm oportunidades de crescimento são aqueles alinhados com o que a empresa valoriza.

No mercado, não é diferente, mas essa exigência é mais forte, sem as limitações do concurso público, e os profissionais que não se adaptam a essas expectativas simplesmente não têm lugar.

- O que um administrador deve ter/saber para obter sucesso em seu trabalho?
Conhecer solidamente administração, com uma base econômica-financeira sólida de forma a conseguir medir a sua contribuição para o negócio em termos tangíveis. Estar antenado com o que acontece no mundo através de jornais, revistas especializadas e internet, é também fundamental.

Ter vivência cultural diversificada e sólida, com uma visão humanista e sistêmica, é também importante. Por fim, ter flexibilidade e resiliência para lidar com mudanças, com pressões, estresse e competitividade, são fundamentais.



- Quais habilidades devem ser desenvolvidas, considerando um graduando em ADM?
Em resumo, além das habilidades técnicas do curso de administração, desenvolver as competências comportamentais relacionadas à inteligência emocional intrapessoal e interpessoal, além de competências orientadas para o negócio como a visão sistêmica e estratégica, orientação para resultados, criatividade, flexibilidade, iniciativa, negociação, administração de conflitos.

Uma boa alternativa para adquirir experiência é participar de projetos universitários de incubadoras de empresas, o que denota maturidade e empreendedorismo. Neste ambiente de competição controlada, podem ser treinados novos comportamentos que são muito valorizados pelas empresas.

- Em geral, os recém formados no curso de ADM atendem as expectativas da sua empresa? Do mercado? Como?

Acredito que uma pequena parcela tem a maturidade necessária para desenvolver outras competências além dos conhecimentos acadêmicos desenvolvidos na universidade. Além do envolvimento em projetos de incubadora de empresas, já mencionado, ter a vivência de um bom estágio, onde se possa colocar em prática os conhecimentos da faculdade e ser submetido à pressão e estresse é importante.

Agrega ter no currículo um histórico de viagens e vivências no exterior, bagagem cultural ampla, participação em atividades voluntárias e participação em projetos que demonstrem liderança, iniciativa, comunicação, negociação e habilidade de relacionamento interpessoal.

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